Sem Título 40

Escolhi cortar os nervos das fissuras

para penetrar em meus olhos doirados

De uma ponta a outra recortei uma manta de lume

para os marnotos queimarem as grinaldas outrora tua presença

Teu belo corpo desmorona toda uma realidade

e o mármore liquida-se nos liames da alma

O mar fala-me, encarcera-me no volume

dum temperamento caprichoso

O mar esconde a treva que me espalha

Sei que já foste espuma de dálias

também cantaste ocultas linhas pálidas

Foi-me dado teu retrato escrito

tão bonito, tão radioso, tão incondicional, tão primaveril

que não acredito se irás ser minha – mesmo minha!

Estou devotado no salto para todo me destruir

e as mãos picadas p’las escrupulosas pedras

fazem pingar nossas lágrimas tristes