Sem Título 48

houve uma ensinada tarde

em que a luz se esticava dentro de mim

agitava-se cruelmente longamente

e eu expandia sem parar

quando subi demasiado humano

por entre avenidas de escadas povoadas

vizualizava esquecidos sábios

quem seriam? quem serão? existirão?

depois da meditação sentado na última abóbada do planeta

descobri a diferença entre a palavra origem e proveniência

essas asas d’ouros em tudo bizarras

acorreram-me uma a uma amando o vento

retina de minha oriunda consciência

outros arrastaram o espaço do meu concreto corpo

e a profundeza do mar a avistar as feridas palavras

eis que me amarram de ponta a ponta

uma infinita espuma movida por rostos

meu coração recluso do impróprio choro doce

contempla o tempo desafinado por raros

perfumes deslizantes

dessas hirtas pétalas ligeiramente oblíquas

e noctívago danço a sinfonia em que morro loucamente