Frestas

Tenho procurado a luz por frestas

Um traço na curva da silhueta de Deus,

O feixe na sombra da porta entreaberta,

O prisma roubado que o gigante acendeu.

Tenho buscado o ar por frestas

O casco de um navio parado no chão,

O caco de vidro de improvável janela,

O sim que se extrai espremendo-se o não.

E no entanto sou sentinela

O fôlego firme afia a visão

A brisa me informa, o brilho me espera

Onde tudo são frestas, nada é vão.

Tenho invadido lugares por frestas

Ralo, assoalho, duto, cancela,

Quarto, palácio, aviso de despejo,

O seu desejo, uma caravela.

Tenho dado vazão por frestas

Os raros momentos sem companhia,

O olhar montado em domado sorriso,

O sono, abandono e acolhida do dia.

E no entanto sigo indiviso

Por sobre o rompante eu sou união

Ser quase sereno em chegada e partida

Onde tudo são frestas, nada é vão.

E serei grato às minhas arestas

Em travessias estreitas, origem e destino

Mensageiras perfeitas do aviso ferino

De que todo limite liberta.

RF

(22/03/2014, 02h45 aprox.

23/03/2014, 22h49)

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 25/03/2014
Código do texto: T4742626
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