RECORDAÇÕES DO BARQUEIRO

Tião nasceu e viveu

Lá no Rio Uruguai

Sustentou os filhos seus

Das águas, como seu pai.

Foi balseiro, fez viagens

De madeiras catarinas

Navegando outras paragens

Até chegar na Argentina.

Da pequena Goio-En partia

Enfrentando as águas bravas

Vencendo as grandes porfias,

Que o rio lhe apresentava.

Conhecia do rio seus segredos,

Como a palma de sua mão.

Das corredeiras e rochedos

Fez-se amigo e irmão.

Mesmo com calor danado,

Forte chuva ou muito frio

Ia em frente, obstinado,

Navegando o velho rio.

Mas o progresso chegou

E as balsas estão paradas,

O balseiro aposentou,

Madeira vai nas estradas.

À beira do rio sentado

Recorda suas aventuras.

Hoje triste e aposentado

Enfrentando mil amarguras.

Quem deu tanto progresso

À economia regional

Agora está empobrecido

Só restou o Funrural.

Mas a esperança não morre

De ver o que um dia viu,

Mal amanhece, ele corre

E volta a olhar o rio.

Aquele que lhe deu lida,

Casa, fama, o próprio pão,

Hoje é mais que sua vida

É encanto e sua oração.

*Homenagem aos valentes catarinenses que transportavam madeira através de “balsas”, pelo Rio Uruguai, para a Argentina, a partir de Goio-En (distrito de Chapecó/SC) e de outras localidades ribeirinhas.

HAMILTON SANTOS
Enviado por HAMILTON SANTOS em 05/05/2007
Reeditado em 05/05/2007
Código do texto: T476042