Depressão
Estou num furacão
Nu num furação estou
completamente nu e só
Só a nudez me completa
Não a nudez grega do atleta
Estou nu sem pureza de criança
Estou nu cheio de roupas pesadas
Apertado e preso nas malhas tramadas
Enrolado em trapos, estopas esfarrapadas
Estou sufocado e preso, atado e armado
Cansado de me debater e sofrer e gemer
Sufocado nas tiras das roupas no pescoço
Dos meus bolsos não resta nem um caroço
As sementes caem sem o menor esforço
No vendaval que as espalha por terras frias
Não há pouso para elas na grande azul esfera
Não há onde sobreviva uma hera
Num muro o vento para e eu bato com a cara
Caio no chão seco e frio e cravo os dedos em vão
Escavo como escravo e me firo em calos
No céu, só cinza sem do Sol nem os halos
Nas sombras, ferido e abatido choro
Molho o chão com esperança torpe de criação
As sementes não germinam e há fome agreste
Sofro nos farrapos sem nada que preste
Choro para irrigar a terra sem água no chão
Sofro o desespero sem esperança no desespero
Sufocado por uma opressão
Estou sob grande pressão
Grande e grave tormento
Um abismo
Depressão