Defumando versos

Tirou do violão, talvez a derradeira nota.

A voz não respondeu.

Mudo, apoiou o rosto no próprio instrumento.

O fogo ainda o aquecia.

A parede da alma já amarelada.

A fumaça aumentava

Preenchendo cada vazio da poesia da sua vida,

Defumando os versos, provocando tosse na rima.

O pensamento mal cavalgava lembranças

De um alfabeto extinto.

De súbito soprou a vela

Percebendo a complexidade escura do labirinto.

Apenas vestígios de carvão.

Nas cinzas, o destruído eterno.

Nada mais das chamas galopantes

Vistas pouco tempo antes.

De costas deitou-se no chão.

Cobriu o rosto com o próprio chapéu.

De qualquer forma não viria o céu.

Nos olhos apenas nuvens formando véus.

Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 11/04/2014
Código do texto: T4764433
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