A LABUTA NOSSA DE CADA DIA.


Quando a primavera
sedeu ao chão as
ultimas flores,o verão
começava a acender
seu fogaréu,Mané Bola
chegou a cozinha,
raspou a melanina,
jogou suor e gordura,
na atmosfera ainda
amena,pegou uma banana
da chapa,sem falar
um monossílabo,ganhou
o espigão.

Boquinha acabara de
chegar da malandragem,
soltou um pensamento,
o dia estava um bom
prato,para saciar os
desejos do amor,
amar exige bons
pensamentos,para
amar é preciso encher
a mente de fantasias,
o pecado depois pede-se
padre Genaro para perdoar,
o importante é a munição,
do corpo,pegou o bule,
e sorveu um gole de
café de melado,afundou-se
no quarto,para não ver
o grito do trabalho.


Maria espingarda,
abriu a porteira,
depositou o feche de lenha,
no parapeito da varanda,
jogou a rodia amassada,
sobre o balaio de bujiganga,
o pescoço parecia querer cair,
mas o almoço estava,
garantido,sinhá Ponciana,
renderia a sua bravura,era
lenha para a semana,e lenha
da boa, madeira com cerne,
adentrou a cozinha,pegou
a vassoura escorregadeira,
encavou o cabo,e em segundos,
seus passos retumbava no
assoalho da fazenda.


No terreiro ,o gado cheirava
a estrume,o leite tinia
no aluminio dos baldes,
um aboio choroso vinha
do alto,mimosa lambia a
cria,língua de vaca é
raspenta,é quiném lida na
roça,descasca o lombo
do cristão.seja feita a vontade
de Deus,observou Sinhana
no varal de roupas,os punhos,
inchados mal torciam as
calças de brim,aceitava
as tarefas,Deus seja louvado.



O tempo vai passando,
na instância,tudo gira
no oval relógio que adorna
a parede da cozinha,
ele bate o sinal angustiante,
é hora do almoço,ou é hora
de... , sinha acorda com seu
vestido rodado, vida de patroa
deve ser um tédio,acordar,comer
deitar e servir o patrão nos
desejos da carne,homem bão,
mas com cheiro de estábulo,
costeleta morrendo na goela,
bigode vermelho de fumo,
sinhá não trabalha, mas sofre
na calada da noite,tudo invertido,
eu labuto de dia ,á noite descanço,
pobre sinhá... ,valei senhor!
Pensar é pecado mortal,não
pensar... ,pegou a bacia,
seguiu seu destino.


O sertão morre todo dia a tarde,
de manhã renasce,sempre
diferente,o barulho das águas
girando a roda do moinho,
nunca é o mesmo, as águas
são outras ,bobagem,nasce
de manhã ,morre a tarde,
nunca o mesmo,o sertão,
é uma atalho para o lado
da felicidade,seus rumores,
lavam as impurezas do cérebro,
devolve a alma sua pureza.
Fechou a cancela,a bezerrada
embolavam no curralito,se
soltar mama o leite,bezerro
não pode ter liberdade,é quiném
menino,tem que ensinar o
rumo certo.A tarde chegava,
chegava nada,o relógio é
que aos poucos ia chinchando
ela,pro céu estrelar,ia bem devagar,
o relógio é irmão sem carne do
patrão,se poem estrela no céu,
o serviço pára,coisa do demo,
bate na boca infeliz!Mal pensar,
é pecado mortal.



Em breve o milho cai na terra,
se tiver cupim na cova,
não nasce nada,se o adubo,
cair no bago queima o grelo,
a porcada precisa de fubá,
opa os porcos!patrão é gente,
patrão quase não peca,
padre Genaro afirma,
que o pecado é uma força
do pensamento,o corpo
tem que ser surrado,quando o
corpo recebe a pena, a alma
ganha leveza de pluma,
mas se patrão não apanha,
então a alma deve ser um chumbo,
bobageira minha,deve ter
boms pensamentos,faz boa
oferta a santa igreja.Santo fica
é muito feliz,na missa patrão ,
fica perto do altar,lá emana mais
glórias,aqui atrás,chega é só respingo.
Perder a fé é pior,garfo de diabo,
tem três dentes,livra-me Deus.
Pensar no bem é urgente.


O relógio não tem mais recurso,
badala,badala,de cá olho o povo
ir ganhando a estrada,sigo atrás.
A boca da noite me da medo,
a fazenda fica com suas
tormentas,amanhã ela acorda,
quase sempre os servos a acordam,
o rancho me espera,nele eu
tenho minha liberdade,viver
tem dois lado,um de glória,
e um de dor,até hoje pouca
glória,muita dor,padre Genaro
tem cada uma,deve ter razão,
eu e  Deus vamos para a noite,
enquanto eu durmo,ele sara minha
carne,meus maus pensamentos
ele  anula,eu e Deus somos
lua e sol, um proteje o outro,
vacilei, sou protegido,mal pensar é
pecado,o céu decreta o corpo da noite,
tudo em mim silência, desarmo,
só desarmando o sono chega,
somos uma arma,se não desarmar,
pode explodir.
Angelo Dias
Enviado por Angelo Dias em 22/04/2014
Reeditado em 23/04/2014
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