" Ser ninguém..."

"Quis ser ninguém, quero ser ninguém,

mas não posso ser ninguém.

No fundo, sei que não posso querer demais,

mas querer de menos me mata.

E o que é ser ninguém?

O que é querer demais?

Viver? Morrer? Ser?

Pensar ser?

Ao cruzar a esquina, nada vejo,

é de noite.

Ao cruzar a rua, nada ouço,

é de noite.

Ao cruzar comigo em cada pensamento, nada incomoda,

é de noite.

O que sou então? O que quero?

Por que a noite é assim,

tão cheia de vazio?

Também não poderia fumar um cigarro,

é o que dizem as regras, mas fumo,

neste estado de anomia noturna -

me instigo.

E na falta do que me defina,

quero muito, vejo muito,

e as vezes transito entre ser algo a mais,

ou o simples vazio.

É de noite...

Aqui sou silencio,

aqui sou a fumaça do cigarro,

aqui posso ser vida ou morte em cada esquina,

em cada rua,

e em cada canto passo por mim,

mas não me vejo,

não me reconheço,

não sei me definir,

e não há olhos me observando...

É de noite, aqui finalmente sou ninguém;

aqui nada exerce pressão, nada me define,

nada me rotula, nada me limita,

nada me observa,

e no vazio, no silêncio,

ser ninguém é melhor do que tudo;

seja la o que for o "tudo",

seja o que atualmente signifique,

todo dia, todo santo dia,

rotineiramente,

ser alguma coisa"

AyA
Enviado por AyA em 05/05/2014
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