DO PACATO AO TROVÃO
Cheirinho vindo do forno,
Mais um sábado em família,
Palavras variadas, jogos de afeto
O corpo sentado à mesa da cozinha
Os raios solares iluminando minha meia face assustada
De repente, o silêncio. -Silêncio bom.
Coração confortável sem motivos aparentes
Respiração perfeita, o saco de pão,
Me dando um conforto sublime só por estar ali
Gosto dele, me simboliza afeto,
Jamais sairia para comprá-lo, então, se está presente, foi trazido.
Aprecio ficar solitário. -Só o saco me basta.
Hoje, nem mortes violentas estão me espantando
Nem jogo do Brasil está me animando
Livros estão falhando na tentativa de despertar minha curiosidade,
O sol não tá me irritando,
E as panelas estão fora do lugar.
A louça limpa, os ralos sujos,
Pia pingando,
Lágrimas secando-se,
Vento gelado, solzinho quente.
Será que vai desbotar minhas tatuagens?
Pardais cantando, pombos fofocando,
Ao fundo o barulho do trânsito
Há tempos que o interior deixou de ser pacato,
Até minha cidade está zombado de mim,
E quem não zombas?
Será que se eu distribuísse frases prontas,
Você as guardaria? -As lerias como se fossem orações?
-Acho que sim. Mas então,
Por que é tão difícil juntar minhas ruínas e construir nossas próprias?
Sinto falta de antigos palácios literários.
Estou farto de ser avatar de testes emocionais,
Cansado de ser válvula reconfortante,
Seu segredo amoroso, sua meia de lã,
Entendiado por ter que almoçar sozinho nos sábados em família,
De te imaginar trazendo o pão,
Enquanto eu amasso a uva para o vinho sagrado.
Não posso construir nosso reino,
Tenho só o trabalho arquitetônico
Sou teoria, sou impulso. - Preciso urgentemente de ação.
Tenha a fineza de me ajudar.
É sobre isso que os pombos estão tagarelando.
O olhar sonolento, verde clarinho, belos cabelos, pele rosada,
Você já tem porte de rei,
Junte-se a mim para governarmos,
Dançarmos a valsa do acasalamento, com nossas coroas de benção.
Vamos pra guerra,
QUERO:
Sangue e ouro,
Prata e bronze,
Sexo e glória.