Vagabundo
Silencioso caminha pela estrada
solitário e pobre vagabundo.
Caminha sempre na via da saudade
Pobre e cansado, vítima do mundo.
Em seus olhos já luziu a esperança, já.
Já teve sonhos, já contou à lua
a sua vida que acabada está.
Mas mudou; e agora a lide é sua.
Certa vez ele viu nascer o dia.
E o sol, que lá em cima rutilava,
envolto num véu de súbita magia,
falou ao jovem que embevecido olhava:
"Pobre de ti que olhas para mim!
Ainda seguirás só e amargurado
Querendo ver da tua vida o fim
Morto de cansaço, por tudo abandonado
Tu, ó jovem, belo e sonhador
Que da vida só pensas no ideal
Vais conhecer o asco do amor
Ver enfim o que nele há de mal.
Volta atrás! Não sigas o caminho
Que te leva à ruína e à derrota!
Pára! Pra que deixas o carinho
e procuras na vida outra rota?"
Mas o jovem deixou o sol falar
E seguiu no caminho da ilusão...
Passo a passo seguiu sem resvalar
Luz na alma, paz no coração...
E hoje "Silencioso vai pela estrada
solitário e pobre vagabundo..."
Caminha qual avezinha mutilada
Pela crueldade ignóbil que há no mundo.