De Profundis




Alheia a teses, colho antíteses como flores
paradoxos girando sóis em novas luzes
As reticências nos fragmentos são meu alento,
parco apelo de infinitude.

Como Safo, me safo da filosofia dos homens
pois só na poesia faço da pedra, pluma
e a pluma é pedra, as duas são cada uma e coisa alguma.
Que sei eu da síntese ? 
Eu, que crio metáforas pra brincar de plenitude.


Poeta, que de tanta errância nas palavras
deu de amar desertos
nebulosas em estrelas quentes
E no silêncio, por ali eleito,
em  veios de incertezas, me deito 
tinindo de fascínio ouvindo o vento
que fala de essências, mais do que sínteses.


As vezes acordo e sou inteireza
As vezes sou metade... menos ainda,
Sou resto cósmico que caiu na terra
e uma rotina de cão me lambe
num festim de deuses que desconheço.
Que sei eu de sínteses !


A única verdade nesse breve instante é o agora,
Esse deus a quem faço oferendas,
voando mais rápido que meu pensamento.


Queria então, por uns segundos
antes do sono mais profundo
flutuar no espaço da minha memória
cismando poesia...uma estória.
Uma alegria simples,
como dois olhos que se encontram
e neles há tanta vida e troca
olhos que conversam tanto
que até os deuses tem ciúme, 
por isso, eles falam baixinho
de loucos mistérios incandescentes.

E na pretensa razão humana 
eles são apenas estrelas cadentes
que de súbito, se apagam
quando em verdade, sequer existiram
mas sempre estiveram juntos... infinitamente.


Então, como pássaro tempo desejo sonho
tudo seria pó estelar que nenhum deus ou homem laça
e eu poderia passar, como tudo passa
em ardor, êxtase, flor do humano e do divino.
Que sei eu de sínteses ?




Ana Valéria Sessa
Enviado por Ana Valéria Sessa em 15/05/2007
Reeditado em 07/06/2009
Código do texto: T487936
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