Contraste
Projeto minha força erótica
Numa menina um tanto quanto exótica
Dessas que curtem coisas como retórica
Na era da informática.
A vocês com esses olhares rígidos
Que me condenam como se eu fosse um sátiro
Vou contar sintético
A história de meu romance eclético:
...uma praia, uma tarde de sábado
O sol escoando no céu, rápido
Derramando em meu corpo raios tépidos
Desenhando no mar linhas rútilas.
As ondas quebrando assíncronas
A lua crescente no zênite
Quando em minha direção em passos rítmicos
Caminhava uma beleza poética.
A me ver, aproximou-se feito bólido
A dois metros lançou-me um olhar prático
E me perguntou se eu era tímido
Com um ar vagamente despótico.
Eu a convidei atônito, afônico, caótico
Ao que seria um programa romântico
Recusou, ia ao jardim botânico
Pois se desliga em ambientes bucólicos.
A noite queria ver uma fita dramática
Tentei convencê-la a ouvir uma música
Disse-me que dançava como um cisne patético
E que detestava ficção científica.
Mas "toparia" se fossem rocks clássicos
Ou alguma apresentação de balé nórdico
Tive um pensamento sórdido
Porém ela me olhou profética.
No domingo mostrou-me seus dotes hípicos
Falou-me de seu interesse ecológico
Perguntou-me das minhas tendências políticas
E descreveu seu embasamento filosófico.
E me deu um beijo cálido
Com um incrível teor aromático
Para que eu esquecesse bocas insípidas
Para dar um jeito em meu caráter frívolo...
Não saquei a razão de seu método
Tão ligado a um mundo teórico
Com alguma inclinação cética
(E ela me disse que eu não era pragmático)
Mas "fiquei" com esta “gata” fantástica
E estou vivendo uma paixão cósmica
Nós não formamos um par lógico
Mas "rolamos" um amor magnético.
Este poema foi escrito em 1979. Eu era um pós-adolescente calouro de Engenharia da UFF. Alguns termos eu dei uma modernizada para não ser tão anacrônico démodé. A inspiração do poema veio de um casal que conheci que eu achava que não tinha nada a ver um com o outro (eu não estava a fim da gata, não era ciúmes), mas se davam bem, muito bem, até casaram depois. E depois de formado eu nunca mais soube deles. Ele estudava comigo ela fazia administração. Rolar era um termo muito empregado pelo meu amigo que eu decidi manter do texto original. Significa “deixa acontecer”.
Nota: ela não quis ir com a gente ver “O Império Contra-ataca” um ano depois.