ANIQUILAMENTO

O céu desce as lentas pálpebras: escuridão.

É infância de uma noite fria...

Logo chega a muda sensação: desalento.

A rua deserta espreita o gato...

Faz uma friagem mórbida no quarto: solidão.

O gato me observa de cima do muro...

Deito na calmaria da noite erma: lenimento.

Não sinto o cheiro nem o gosto da alegria...

Permaneço imóvel dentro do corpo: lassidão.

Tenho um garfo, uma faca, um prato...

Ouço passos secos na memória: pensamento.

E uma alma oca com fome de escuro...

Quebra-se a vidraça do silêncio: confusão.

As flores já adormeceram no jardim...

Fecho os olhos tão pesados: entorpecimento.

Só o gato ainda se lembra de mim.

O sono abre a janela do tempo: libertação.

Arrisco a sorte.

Viajo na escuridão do céu: aniquilamento.

Ensaio a morte.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 11/08/2014
Código do texto: T4918827
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