ANIQUILAMENTO
O céu desce as lentas pálpebras: escuridão.
É infância de uma noite fria...
Logo chega a muda sensação: desalento.
A rua deserta espreita o gato...
Faz uma friagem mórbida no quarto: solidão.
O gato me observa de cima do muro...
Deito na calmaria da noite erma: lenimento.
Não sinto o cheiro nem o gosto da alegria...
Permaneço imóvel dentro do corpo: lassidão.
Tenho um garfo, uma faca, um prato...
Ouço passos secos na memória: pensamento.
E uma alma oca com fome de escuro...
Quebra-se a vidraça do silêncio: confusão.
As flores já adormeceram no jardim...
Fecho os olhos tão pesados: entorpecimento.
Só o gato ainda se lembra de mim.
O sono abre a janela do tempo: libertação.
Arrisco a sorte.
Viajo na escuridão do céu: aniquilamento.
Ensaio a morte.