"Luzes da Ribalta"?

Luciana Carrero

Na tepidez frenética de um sonho infante

A vida apareceu nua à minha frente

Sugerindo-me a erótica visão de mundo

Para uma ação de cópula a deflorar o tempo.

O frio de junho caia em flocos na vidraça.

Minha mãe cantava e parecia profetizar:

“... Se o ideal que sempre nos acalentou

Renascerá em outros corações”

Eu não entendia de onde minha mãe tirava

Tanta coisa bonita para enfiar espantos em mim

Mas eu entendia a mensagem da humana finitude

Quando ela repetia o refrão que atravessava o vidro

E ia congelar-se na densa neve do jardim.

Como um vaticínio a dizer que tudo passa

E um dia todos seremos plácidos como esta neve

Para abrir sucessão a novos sonhos de outrens.

Mas uma estranha esperança me embalava

Na tepidez frenética do meu sonho infante

de que o renascer seria de mim mesma quando

A neve fosse embora e me trouxesse o sol

Que até hoje me aquece no verão do sonho.

E neste inverno deita flocos de gelo na vidraça dos meus velhos olhos

Não adianta chorar o que passou! Estão chegando outros

Cada vez mais afoitos para nos substituir!