Vestidos

Feito sombra que, perdido o umbral, vira gesto no ar,

sobre o meu gesto se lança a sua palma,

são os meus braços herdeiros do seu manto.

A minha inspiração expele o seu hálito;

a mão, mesmo aberta, se entrelaça.

De um novo ângulo fito as estrelas.

As maçãs do rosto recebem nova brisa.

Reconheço o olhar que agora abraça a chuva,

bem como um quê da vocação para o que não enxergo.

Com a ousadia dos íntimos e cúmplices,

acomodo as diferenças e atritos,

grato por não se explicarem.

Nada é mais livre do que as pontas soltas.

Sigo fecundo de pausas e vírgulas.

Nu, vou vestido de par.

O fôlego que me tomou agora repõe do próprio.

Sua grafia declara o meu afeto.

E é tamanha a comunhão de autorias,

tão farta é a troca

que já não sei quem reparou primeiro

que a alegria, como a dor, não dá aviso.

(Daí o espanto que vem com o gosto

de sentir no meu rosto

o nascer do seu sorriso)

RF

12/08/2014

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 16/08/2014
Reeditado em 31/07/2015
Código do texto: T4924800
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