Nau
Noite, vaga pelo oceano a nau
No infinito busca o norte
Sedenta de todo sal
Espera ter a sorte
Tempestade, água turva
Olhos no mastro
Pedra aguda
Perde o lastro
Sem rumo, nau à deriva
Medo fita janela
Tripulação se esquiva
Rasga-se toda vela
Armadilha, canto da sereia
Mãos no timão
Desejo de areia
Acende-se lampião
Ondas, mareada do mal
Suada como a morte
Singra como tal
Sangra pelo corte
Mar bravio, agarra-se ao poste
Luta contra vaga enorme
Tenta manter o porte
Bravo como um forte
Na cabine jaz terrível capitão
Vítima certa do motim
Ferido espera redenção, em vão
No rastro do estopim
Nos porões, tesouro
Baús, jóias, prata, ouro
Peças de mau agouro
Motivo de todo estouro
Terror na madrugada
De rum embriagada
Bebem das tinas
Fogo nas lamparinas
Manhã, chega calmaria
Alento sem vento
Fome, desespero, apatia
Aguarda-se o momento
Bombordo, mira na vigia imediato
Sentinela na escotilha
Marujo corre cansado, no ato
Na proa avista ilha
Gávea grita, ao longe uma terra
Sonho de enseada
Casco que enterra
Praia, chegada.
Vitória, Victoria.
(de Fábio Pirajá)