Nau

Noite, vaga pelo oceano a nau

No infinito busca o norte

Sedenta de todo sal

Espera ter a sorte

Tempestade, água turva

Olhos no mastro

Pedra aguda

Perde o lastro

Sem rumo, nau à deriva

Medo fita janela

Tripulação se esquiva

Rasga-se toda vela

Armadilha, canto da sereia

Mãos no timão

Desejo de areia

Acende-se lampião

Ondas, mareada do mal

Suada como a morte

Singra como tal

Sangra pelo corte

Mar bravio, agarra-se ao poste

Luta contra vaga enorme

Tenta manter o porte

Bravo como um forte

Na cabine jaz terrível capitão

Vítima certa do motim

Ferido espera redenção, em vão

No rastro do estopim

Nos porões, tesouro

Baús, jóias, prata, ouro

Peças de mau agouro

Motivo de todo estouro

Terror na madrugada

De rum embriagada

Bebem das tinas

Fogo nas lamparinas

Manhã, chega calmaria

Alento sem vento

Fome, desespero, apatia

Aguarda-se o momento

Bombordo, mira na vigia imediato

Sentinela na escotilha

Marujo corre cansado, no ato

Na proa avista ilha

Gávea grita, ao longe uma terra

Sonho de enseada

Casco que enterra

Praia, chegada.

Vitória, Victoria.

(de Fábio Pirajá)

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 19/05/2007
Código do texto: T492905