O TRABALHO DO FUTURO
Que a minha carteira de trabalho
Esteja cheia de versos quando eu me for,
Isso é coisa que já não posso pedir,
Mesmo que também não possa não desejar.
Quando pela primeira vez eu
Me vi como poeta,
Estava contando parafusos.
Ele, então, riu de mim.
Já noutro lugar, ao virar pesadas caixas de fumo,
Era a poesia que me fazia continuar,
Mas também era ela, ainda ela, sempre ela,
Que o fazia rir.
Hoje trabalho num laboratório
Amanhã, não sei.
Dá trabalho ser poeta.
Dá trabalho achar lugar pra poesia.
Dá muito trabalho ser poeta!
Mesmo que ser poeta
Jamais tenha sido
O meu trabalho.
E ele continua rindo
Seja por maldade.
Ou, quem sabe, apenas o seu trabalho.
Vai saber...
Talvez ele também seja poeta
Com alguém a rir da sua poesia.