Do que não tem título, e nem é poesia

O que é que está acontecendo?

Estamos pirando, o mal está vencendo

Sentir de verdade, lutar por bondade

No mundo que temos

É quase obsceno

Eu aceno e ninguém devolve

As respostas das perguntas roubadas

Pelos nazistas, os falsos amantes

E pela brisa das luas embriagadas

Caíram ao chão, do bolso transbordado

De tudo que eu tenho guardado

Eu preciso me despir

Todas as bandeiras estão queimando

Sinto o cheiro do inferno daqui

Não podemos mais permitir

Que a despótica da escória

Seja a diáspora dos poucos anjos

Que ainda restam por aqui

Bolsa família, bolsa furada

Essa política tem de ser

Urgentemente atualizada

Bolsa suicídio é a nova empreitada

Da nova era do “era uma vez”

Tudo que se podia fazer, e não se fez

Em mil sonhos, mil contos de finais felizes

Eu ainda vivo em histórias inventadas

Caminho entre planaltos, planícies

Refúgios de amor, loucuras, esquisitices

E depressões, em que despencam

Os sonhos meus e de caros amigos

E por lá mantemos almas acorrentadas

Uma vez, ( e só podia ser

Pois era único, o Ser),

Alguém me disse que a vida

Tinha de ser d e l i c a d a

Minha tolice, tão tola, acreditou

Nessa bobagem de que ter coragem

É poder crescer com um punhado de vencer

Em sacrifícios de amor e honestidade

Eu parei de crescer no início

Quando, de ainda muito longe,

Avistei a superlotação

Montanha de sonhos

No fundo do abismo

Guardei o melhor de mim

Presente da infância

E como é bom ser, e ainda ter

Crianças! Crianças, onde estão?

Parece que até as sementes

Da promessa de um novo mundo bom

Estão sendo alvo da corrupção

Peço desculpas a quem

Por direito tem, a leveza de ser feliz

Mas disso tudo, não creio que chegarei

A mil léguas de um triz

Sinto muito, já passei muito do raso

Pelo sujo do ralo, pelo mais breu do escuro

E com sua licença, dirijo-me

A quem em palavras me presenteia

Vou lhe dizer mais uma vez

Por favor, com carinho leia:

"Que essa vadia nos cobre barato

Por deitar nua ao nosso lado

Nua de tudo que nos seria mais caro

Sem suas horas de companhia

(Ou enquanto durar essa nossa noite fria)"

Aí está o que não se conta

Na contabilidade do que sinto

Mas hoje tive vontade de não calar

O que escorre turvo da minha verdade

É certo que é também maldade

Condenar a poesia ao que é triste

Mas acredite, isso é só um pouco

Do medo que sinto nesse mundo que me aflige

"O coração é um músculo que pensa" (do amigo H. Francisconi)

&lis*

21/08/14

Elis Maria
Enviado por Elis Maria em 23/08/2014
Código do texto: T4933879
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