MIQUELINO

Volta e meia eu faço uma rima.

seca, pobre, sem estima.

Antiquado, cafona, coisa de matuto,

mas como é difícil resistir a esse impulso

de ver duas palavras se beijando.

As palavras se beijam como ninguém.

Beijo de língua.

Beijos que não respeitam os limites

do espaço papelesco e ficam no tempo,

faça chuva faça sol, fazem um doce papelão.

Os amantes, em geral, também não são bonitinhos

com seus beijos lambrecados, inconvenientes, de mal gosto.

Mesmo assim eles se deixam surpreender,

alheios à exposição pública,

no metrô,

na parada de ônibus,

na praça,

na praia,

no shopping.

Ademais, o mundo acabará depois de amanhã,

quase certo, numa rima.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 23/08/2014
Reeditado em 24/09/2014
Código do texto: T4934479
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