Estrela Maior.
Como um prisma outra visão incende,
Na manhã genial que teu seio aviva,
O dia, o dia recomeçando sempre,
Quando em repouso a retina altiva,
Óh, maravilha dizem deuses e mortais,
Estrela ígnea que consome os vis metais,
Um brilho perene no céu lunar,
Crepita em ardor um véu, um gesto,
A maré amansa seu intrépido valsar,
A areia o mar o céu, e todo o resto,
Cede a causa de genial feitura,
Ardeu em flamas, criou-se quentura,
E partiu ligeiro sobre o prado e outeiro,
Dobrou-se luz nas águas cristalinas,
Concebeu-se fulgor no sombreado primeiro,
Fulgindo o tempo em centelhas divinas,
Ardeu em chamas riscando o tempo,
Como fagulha viril rompendo o vento,
A alma expôs-se como chispa viril,
Fez-se distinto em causa celestial,
Deslizou o cume e reluziu febril,
Transpassou o vítreo e o vitral,
Afrontou a vida num só esplendor
Com o céu depondo a seu ledo favor,
A pele vestiu-se de luzes alvas,
A criança brincou e se fez ardil,
O mar chorou em águas calmas,
A barba grisalha brilhou e reluziu,
Doou a vida, encheu o vazio,
Trouxe calor o que outrora era frio,
O tempo nasce quando se levanta,
A manhã brinda e se fez radiosa,
O dia soluça na correria de prosas,
E minha tênue timidez se agiganta,
A grandeza que no tempo tens agora,
Mistério que conta no surgir da aurora,
Extrai a força e por vezes concede,
E o frágil torna-se um tanto mais forte,
Faz sequidão na tarde que em breve
Será tórrida paixão sem prumo, sem norte,
Afagados seios, formas, calor, delírio,
Ascendem o fogo como fêmeas no cio,
As nuvens de arrebóis são raras,
Quando à tarde mansa se rende,
O gorjeio de pássaros nobres e araras,
E aves níveas são diamantes latentes,
Os filetes de raios são como um grito
Que no céu de púrpura rompe o infinito,
Ó juventude Ó passado Ó vitória,
Vênus corteja Adônis sobre teu véu,
Amor se dá, se sente e não se implora,
A caça vai o jovem e o seu bravo corcel,
Nem o calor, nem o amor soube vencer,
Adônis zombou e caçado fora até fenecer,
Tens no céu lugar de privilégios,
Vista o passado presente e futuro,
Brindou a morte de vários régios,
Eram devotos desse solstício seguro,
Terra guarda a matéria prima do tempo,
Na alvorada saem do seu vil aposento,
Esteve na babilônia, gregos, romanos,
Sentenciou a glória e morte de milhares,
Presenciou a derrocada dos troianos,
Aqueceu a todos apesar dos pesares,
Ó estrela maior, traz contigo a memória,
A estória ferve no calor de sua glória,
Tanta delicadeza evaporando o orvalho,
O semblante constrito no intento de ver,
A luz traz vida ao bucólico cenário,
Na tarde que finge um novo alvorecer,
A realeza presta honra ao nascer no leste,
A noite toma conta ao se por no oeste,
Quanta honra expele o mundo a teu brio,
vidas passadas e a posteridade que canta
na equidade que provém o mês de abril,
nem água, nem seca, equilíbrio que encanta,
O resto do ano aquece o frio e os corações,
Assim como os mares, rios, atóis e pontões,
Quando o céu se acinzenta em tom de ira
e as nuvens precipitam densas e apressadas,
logo penetra um lume dourado que mira,
as gotas translúcidas que caem evaporadas,
Mesmo o céu que trama contra teu amor,
Não há nuvens tantas que isentem o seu valor,
Vênus não se recusa e realiza seu intento
refletindo na noite um talento que alheio
a sua vontade seu desejo ou seu lamento,
Faz de graça, sem cobrança, sem receio,
É a lei do cosmo, esse universo sideral,
Uns são formas cadentes, outros colossal,
Júpiter em causa sublime o faz também
e na noite enluarada triplica o brilho solar,
são coisas que do mesmo céu provém,
como tantas outras que não ouso explicar,
conspecto, investigando a egrégia vastidão,
Na retina nasce reflexo de pura gratidão,
A presença acima do horizonte por certo
efeito tem como a dor é causa do açoite,
o dia eclodi como se o céu fosse aberto,
e abaixo do horizonte se cria então a noite,
Mesmo que o dia finde e o leve também,
O céu reflete a luz de astros que as detém,
Vi de miragens se formando na ardência
esfalfante que tens sobre o calor no chão,
o enganar tornando-se sede e clemência
suplicio de vida de quem vive no sertão,
Partem Chutando a poeira e pedras duras,
Braços pensos, formas magras, sem posturas,
O vento para e se confessa as páginas alvas
que emitem um tom dourado cor de louros,
A vela cede á noite suas luzes mais calmas,
Enquanto versos tentam ser mais duradouros
O sopro cessa a luz e a vela perde o seu sol,
O dia logo reluz amarelo como belo girassol,