DRY MARTINI (Nova Elegia 1938)

Enfastiado de dístico elegíaco,

o mundo já estava quase pronto em 1938,

embora há muito fosse velho, resmungão e teimoso.

Em sua homenagem construímos uma casa

tijolos vermelhos na floreta de bétulas

e depois plantamos duas rosas,

construímos muros,

derribamos muros e tornamos a erigi-los,

pois não se pode misturar a igualdade.

A Grande Máquina globalizada não distingue dia e noite.

Heróis enchem bailes funk em bibliotecas abandonadas

enquanto drones circulam entre os mortos e vivos.

Nada mais pode estragar nossas melhores horas de amor e ódio,

protegidas por circuito integrados de segurança por satélite.

Não temos mais tempo a perder, só infindáveis imagens para engolir.

Se ele confessou sua derrota, jamais saberemos.

A felicidade coletiva foi adiada para outro século.

Não este ainda, outro,

porque hoje, afinal, não se pode, sozinho, dinamitar o mundo inteiro,

não sem antes tomar um dry martini em algum hotel em Saadiyat.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 30/08/2014
Reeditado em 05/09/2014
Código do texto: T4942969
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