Coração
Caminhando pelas
calçadas sem dar
a mínima para o
rebanho de gente
indo e vindo
sem parar.
Mentes podres,
almas pobres.
Ao longe enxergo
um letreiro enorme
com letras de cegar
os olhos.
A-Ç-O-U-G-U-E
Entrei no
estabelecimento.
Aquele cheiro
de morte
no ar.
Grandes pedaços
de carne balançando
pra lá e pra cá
como se ainda
tivessem vida.
Pedi ao atendente
um coração fresquinho.
O fulano
me vira as costas
e entra numa
porta branca
e depois de alguns
minutos volta
ele com o belo
orgão vital.
Pego em minhas
mãos, e sinto
aquilo ainda
pulsando
sem parar.
Saio,
dou alguns passos
e abro meu peito.
Com muita
dificuldade
arranco a pedra
de gelo que
carrego dentro
de mim, por
muito anos.
No seu lugar
boto o coração
novinho.
Lanço o pedaço
gelado pra tráz
que se espatifa
pelo chão.
Sigo a andar
sem rumo
pela vida
em busca de
novos amores
e
novas dores.
Até meu coração
congelar novamente.