EU BEBO PELA DOR DE BEBER
Eu sinto inveja daqueles que sinto pena.
Dos que reclamam de dia, agradecem de noite
E morrem com o arrependimento na ponta da língua.
Dos que torcem para ganhar e ganham
Para orar com devoção.
Dos que bebem apenas para sorrir
E sorrindo fecham os olhos.
Eu bebo pela dor de beber
Quando não, pela garganta
Que, vez ou outra, inflamada, dói também.
Salvo minhas mágoas do afogamento
Por pena, orgulho ou vaidade,
E sinto muito pelos momentos
Em que nada sinto
Ou sinto o que não devo sentir.
Náuseas.
Preferiria sentir cócegas
E morrer sorrindo
De olhos assim...bem fechados.