PLISSÊ

Por onde andará Ana Cristina

que furtou meus fins de tarde

com sua saia plissada

e sorrisos que me ignoravam?

Eu que saia às carreiras

da derradeira aula vespertina

a mendigar um naco de sonho

ao vê-la surgir na esquina.

Por onde andará Ana Cristina

que inundava minha calçada

dos mais verdes olhos distantes,

ao piar das últimas andorinhas?

Eu me sentava no degrau do alpendre,

para vê-la passar com as irmãs

num conjunto inacessível que excluia

este pequeno coração estupefato.

Por onde andará Ana Cristina?

Talvez tomado para sempre a Alameda do Botafogo,

à sombra das castanheiras,

por onde meus sonhos seguiam sós,

plissados, até se perderem de mim,

proibido de atravessar a Avenida Anhanguera.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 08/09/2014
Código do texto: T4953934
Classificação de conteúdo: seguro