PLISSÊ
Por onde andará Ana Cristina
que furtou meus fins de tarde
com sua saia plissada
e sorrisos que me ignoravam?
Eu que saia às carreiras
da derradeira aula vespertina
a mendigar um naco de sonho
ao vê-la surgir na esquina.
Por onde andará Ana Cristina
que inundava minha calçada
dos mais verdes olhos distantes,
ao piar das últimas andorinhas?
Eu me sentava no degrau do alpendre,
para vê-la passar com as irmãs
num conjunto inacessível que excluia
este pequeno coração estupefato.
Por onde andará Ana Cristina?
Talvez tomado para sempre a Alameda do Botafogo,
à sombra das castanheiras,
por onde meus sonhos seguiam sós,
plissados, até se perderem de mim,
proibido de atravessar a Avenida Anhanguera.