VAGO

Desisti de ser super-herói,

muito trabalho e pouca privacidade,

nenhuma remuneração e alto investimento.

Desisti também de ser astronauta ou cientista,

muita dedicação e reconhecimento somente a longo prazo.

Não me tornei um astro do rock tampouco.

Ensaios infindáveis me calejavam os dedos e me deixavam rouco.

Nem me fiz ator, seja de cinema, de TV ou de teatro.

Mal sei interpretar a mim mesmo.

Por fim, fui ficando cansado de ser famoso antes mesmo de sê-lo.

Quando me vi mero mortal, faltou esmero.

Não fui o filho que ensinaram,

nem o amigo que esperavam.

Não fui o esposo que prometi,

nem o amante que julgava ser.

Não montei aquele negócio da China,

nem economizei um centavo sequer.

Não malhei, nem emagreci,

não pintei aquele quadro,

nem escrevi aquele livro.

Não aprendi aquele instrumento

e nem um dos idiomas que pretendia.

Não naveguei pelos sete mares

no barco que eu mesmo construiria,

nem me mudei pro interior de Liechtenstein

Restou-me por fim um bilhete

no último trem da poesia.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 09/09/2014
Reeditado em 27/09/2014
Código do texto: T4955277
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