BOVARISTA

Êta, alma atrevida!

Tu que habitas entre ossos

de um esqueleto disforme

por anomalias congênitas

e fraturas mal cicatrizadas,

ainda te arrojas em grandes planos,

elevados demais para ti.

Machuca a ti mesmo

e fazes sofrer a carne que te cobre.

Esqueces que fostes menina,

que te rendias fascinada

à menor forma, cor e cheiro,

ao teu primeiro brinquedo,

ao teu primeiro chiclete,

a sorrisos amigos,

a olhares que permaneceram (ainda que efêmeros).

Simplicidade e pureza são tesouros,

roubados não mais se repõem.

Pois cala e aquieta,

deita ao lixo teu bovarismo,

não te tenhas acima da conta,

além do que és, do que te é devido.

Ainda que não durmas hoje ou amanhã,

descansarás com o teu bocado

com a parte que te cabe. E vive.

Se não consegues por limites à porção dos teus desejos,

ainda assim,

não delires para além da tua febre.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 12/09/2014
Reeditado em 23/09/2014
Código do texto: T4959120
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