Do outro lado do sol
Dista um sertão inteiro
(Nesse tempo ensolarado
De bonito chega a ser feio)
O rio raso do prato cheio
Profundo era o passo
Das cabeças de lata
Marcavam na terra
Peso bom da vida farta
Numa colcha de retalhos
Tornou-se esse deserto
Abrevia meu futuro
Esse presente incerto
Do pão, nem o duro
Do sol, nem suor enxugo
E nas frestas da rede vazia
Peneiro o vento que assovia:
“A enxada ainda é o teu escudo”
É varal sem roupa pra secar
E nem a poeira quer mais levantar
É olhar pro céu a tarde inteira
E ir dormir sem rezar. Blasfêmia!
É o apego de dobrar joelhos
Pregar ao terço meus apelos
Minha paixão, esse sertão
É também meu pesadelo
Sei que há quem duvide
Mas meu Deus existe
No milagre de ainda brotar
O molhado de uma lágrima
No rosto da criança triste
*JF
&lis*
28/08/14