INSÓLITO

Um dia eu disse que sabia cantar,

por medo calaram minha voz.

Nesse mesmo dia,

chegaram pra mim a pena e o papel.

Então anotei minhas cantigas de amor,

de amigo e

de maldizer.

Veio correndo um vento,

levou -me a pena e o papel,

agora não sei quem são meus amores,

meus amigos e não maldigo mais também.

Depois disso tudo eu ainda queria falar,

meteram a mão na minha garganta

e me tiraram o som de fim de tarde,

não posso dizer mais nada.

Naquela época eu cantava tão lindo!

Quando eu desistir de cantar me devolverão tudo que me tiraram,

só não querem me ouvir.

Se disseram? Não, não me disseram nada,

mas me fazem ver que é assim que a vida se desenrola.

E eu que não sabia de nada,

quando cheguei aqui pensei que fosse encher o mundo com minha canção.

Como é cruel o som do silêncio,

e como dói não se ouvir!

Cheguei sozinha, estou sozinha,

não há nada à minha volta.

E como dói não ser ouvido...

Se um simples conto pudesse exprimir o quê um coração solitário sente,

eu diria pra vocês,

mas não cabe nas palavras.

Haveria no mundo algo que explicasse a dor de se sentir sozinho quando há tanta gente ao redor?

Não sei falar,

nunca deixei de ser criança.

Na verdade,

eu nem quero deixar de ser,

prefiro viver sozinha do que crescer.