CARTAS AO MAR EM GARRAFAS
 
 
Escrever poesias
é como lançar cartas
ao mar em garrafas.
Nunca se sabe se alguém
irá, daqui a meses, ou anos
resgatá-las. E guardá-las,
dentro dum livro, no seio.
Ou destruí-las.
 
Escrever poesias é isto.
Bem isto: qual lançar cartas
ao mar em garrafas.
 
Alguém, talvez, as colha
e até chore com a dor que a
letra tranca e destranca, revive.
Outro talvez as leia e lance de vol-
ta ao turbilhão do devir. Quem sabe,
haverá quem sorria, achando o texto
bom; depois, venha a franzir o cenho,
pensando-o brilhante, melhor, bem melhor
que os seus... E, finalmente, quiçá por equívoco,
julgando aquilo grande: o enterre. Ou, asséptico,
não poupe querosene ao convertê-lo em cinzas...
E isso é belo outrossim, porque trágico. Humano.
Escrever poesias: para fazê-lo, só se não pode ser
infenso à idéia de lançar cartas ao mar em garrafas.
Algumas sempre voltarão à praia. E as revisaremos.
Outras, serão tragadas por qualquer corrente escura
para as profundezas do oceano. E, então, pulsarão
como arcano, como potência, ao lado de Deus,
do Verbo puro. E do Silêncio.
 
 
Igor Buys
(poesia do Jovem Igor Buys)
Revisada em 05 de outubro de 2014
 
Igor Buys
Enviado por Igor Buys em 05/10/2014
Reeditado em 05/10/2014
Código do texto: T4988357
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