VETUSTO

Ele era velho, muito velho.

Seus passos vagarosos pareciam arrastar a História.

Sua pele cerosa transluzia pergaminho enrugado

como se as estações de todas as eras tivessem agido sobre ela.

Os ombros arqueados sob o peso do mundo.

Tirou da cabeça o chapéu

- a testa suada, surrada, sofrida -

e arrumou para trás os cabelos brancos,

tão brancos que lavariam os pecados da humanidade

e permaneceriam brancos.

Mesmo a ação do tempo não deixava seus olhos cansados,

mas serenos e férteis,

ainda que confessassem segredos de muito sofrimento.

Olhos de quem enterrou filhos,

de quem sofreu por amor,

de quem foi desiludido infinitas vezes.

Olhos de quem foi traído, abandonado e esquecido.

Por tudo isso aquele velhinho me surpreendeu,

entregando-me um sorriso de criança

e me perguntando onde encontrar um boteco,

simples assim,

qualquer lugarzinho ajeitado onde tomar um chope bem gelado,

e a gente se preocupa com tanta coisa besta.

Asael Souza
Enviado por Asael Souza em 08/10/2014
Código do texto: T4991891
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