VETUSTO
Ele era velho, muito velho.
Seus passos vagarosos pareciam arrastar a História.
Sua pele cerosa transluzia pergaminho enrugado
como se as estações de todas as eras tivessem agido sobre ela.
Os ombros arqueados sob o peso do mundo.
Tirou da cabeça o chapéu
- a testa suada, surrada, sofrida -
e arrumou para trás os cabelos brancos,
tão brancos que lavariam os pecados da humanidade
e permaneceriam brancos.
Mesmo a ação do tempo não deixava seus olhos cansados,
mas serenos e férteis,
ainda que confessassem segredos de muito sofrimento.
Olhos de quem enterrou filhos,
de quem sofreu por amor,
de quem foi desiludido infinitas vezes.
Olhos de quem foi traído, abandonado e esquecido.
Por tudo isso aquele velhinho me surpreendeu,
entregando-me um sorriso de criança
e me perguntando onde encontrar um boteco,
simples assim,
qualquer lugarzinho ajeitado onde tomar um chope bem gelado,
e a gente se preocupa com tanta coisa besta.