GRIDS E GRILOS
À Mário Quintana e Ayrton Senna
falecidos em maio de 1994.
Corremos juntos e tanto
em uma pista tão curta,
grid a grid,
ganhando esse mundo
de sinas, senas e sendas.
Nosso amigo poeta
andava vagarosamente
por uma trilha pampeira,
decifrando, grilo a grilo,
os corações dos afogados que foram salvos.
A gente esquece que na vida há um corredor,
um corredor que faz um cotovelo.
A gente esquece ou deixa pra lá, muda de assunto,
assim como há uma curva depois de cada verso
e um verso depois de cada curva.
Quando a gente lembra, a gente chora,
é o relógio da parede que devora.
Eles, por desforra, seguiram abraçados,
caminhando por uma estrada matutina,
envolvidos na mesma bandeira,
em conversas e intrigas latinas,
de um país de grids e grilos.
Duas partes de nós,
forjadas em versos e velocímetros,
intangíveis e inafastáveis,
habituadas ao relento,
nem múltiplo nem metade.