Dormir Não Convém
Para Henry Evaristo.
Realmente, dormir não convém.
Seja pela química ou pelo som do trem.
Pois o mal espreita, nada rutilante.
E passos furtivos nos causam pavor cortante.
O sobretudo no cabide do armário
Ostenta os ombros do ser adversário.
Mas quem abriu a porta do armário?
Imagino meu sangue fluir atramentário.
Por que logo agora faltou luz?
Bom Deus, o que é aquilo dentro do capuz?
Meus olhos, míopes, viram os contornos.
Não consigo me mover ao ouvir o crocitar dos corvos.
Pousados nos ombros da enorme sombra
Que saiu do armário de forma medonha.
Bom Deus, aquilo se move em minha direção.
Bom Deus, não consigo suportar o horror desta abominação.