Inglaterra
Saio tremendo pois a manhã é fria
Dentro do carro, tento não pensar.
Não pensar no frio que me angustia
Que vem de dentro d'alma, não do ar.
Vejo as ruas... Quisera poder retê-las:
As casas com o povo que está a despertar...
O caminho é longo, está cheio de estrelas
Que vão se apagando à fria luz solar.
No aeroporto, reconsidero todo o trajeto
O caminho que me levou e trouxe até ali.
Finjindo sorrio, mas a alma chora em secreto
Tive num sonho um presságio: Que esqueci!
Acima das nuvens escuras e pesadas do mundo
Voam rápidos e mais altos os meus pensamentos
De óculos na face dou vaza ao pranto profundo
Tão cheio de senões, frustrações e sofrimentos.
Dói-me ainda a lembrança daqueles que ficaram
Com sorrisos que escondiam as lágrimas sem fim:
Minha mãe, meu pai, meus irmãos todos silenciaram
Somente as lembranças inexatas permanecem em mim.
Do canto de minha janela vejo luzes d'Espanha
Madrid desperta o avião e inicia-se a descida
E eu sinto poderosa mão gigantesca e estranha
Sacudir impiedosamente minha miseranda vida.
Meu semblante enxuto agora está arrefecido
Duas horas passaram e já estou na Inglaterra.
No metrô, sou só mais um miserável desconhecido
-Um morto maravilhado com a pá que o enterra!