Aos Poetas

Aos Poetas

A Poesia vive de sobras de sentidos que não fazem sentidos para quem apenas profere.

A palavra responde ao Poeta; o Poeta responde à palavra. Ambos são catadores de vida

A Poesia precisa de que haja cópula entre dito e não-dito, dessa maneira, um novo dito é dito. É necessário catar o murmúrio que a vida sussurrou e fazer gritar a rima para que o mundo surdo escute a melodia do idílio.

Todo Poeta é um sacrílego!

A palavra não procura véu, nem grinalda; tampouco quer fazer aliança ou usar a aliança que a prenda e a subjugue.

A Poesia é a libertinagem dos sentimentos!

No papel dançam as rimas e uma orgia entre os léxicos faz gemer todos os sentidos. Não há pudor no rebolado das frases, nem cabem os olhos arregalados dos dicionários moralistas.

Poesia que é Poesia deve trair seu Poeta!

A fidelidade exige desculpas e perdões; Poesia não dá satisfação; satisfaz.

A Poesia vive da presença da ausência, logo, faz folia na ressaca da festa.

O papel espera aberto a hora de ser penetrado pela tinta da caneta que a mão do Poeta maneja.

Poesia; gozo!

Poeta; vetor!

Não há silêncio nos estribilhos dos versos; até as margens vociferam. É possível ouvir as pausas e respiros das elipses que (não/está) nas rimas.

Ecos idílicos!

... e assim, a Poesia escrita escreve e é o próprio Poeta de si mesma.

... e assim, o Poeta pensa que é... só pensa ... e é!

E tudo é etc e ...

Mário Paternostro