DE MÃOS ATADAS

Entre os dedos a areia

do tempo:

marcho ao som

do tique-taque dos relógios.

A vida, cada dia mais curta,

e nada a me interessar.

Enterrado em obrigações,

durmo.

Não me culpem pelo fim do mundo.

Não me chamem de irresponsável.

Já não creio mesmo em muitas coisas

e me calo.

Meu silêncio - uma forma de protesto.

Um adolescente morreu

ainda há pouco.

Um tiro na garganta

e ele, rouco,

gritou pela sua mãe.

Podia ter sido eu.

Podia ter sido alguém

por quem ainda tenho estima.

Não foi.

Foi um adolescente,

a quem não tive a chance

de falar.

Mas se protesto mudo,

o que iria falar?

Se não mudo,

o que iria mostrar?

Beto Carrasco
Enviado por Beto Carrasco em 28/05/2007
Reeditado em 28/05/2007
Código do texto: T504349