DE MÃOS ATADAS
Entre os dedos a areia
do tempo:
marcho ao som
do tique-taque dos relógios.
A vida, cada dia mais curta,
e nada a me interessar.
Enterrado em obrigações,
durmo.
Não me culpem pelo fim do mundo.
Não me chamem de irresponsável.
Já não creio mesmo em muitas coisas
e me calo.
Meu silêncio - uma forma de protesto.
Um adolescente morreu
ainda há pouco.
Um tiro na garganta
e ele, rouco,
gritou pela sua mãe.
Podia ter sido eu.
Podia ter sido alguém
por quem ainda tenho estima.
Não foi.
Foi um adolescente,
a quem não tive a chance
de falar.
Mas se protesto mudo,
o que iria falar?
Se não mudo,
o que iria mostrar?