Abortar
Mas eu, que já sei bem usar o porém, sabendo do milagre que sou
Falo das outras que tentaram também, do sangue que jorrou
Do direito de escolha e de viver, do direito de a mim não ter
De mim, que nem sou racional ainda, nem sei de nada na barriga
De alguém, que as vezes só dessa vez errou, que não se preparou
Da crescência de morte por falta de estrutura, desde a conversa
Até a escola que é da prefeitura, e de toda essa tal de censura
Do direito de escolha e também de crescer, de errar e de saber
Da infância perdida de qualquer um dos modos, do caso suicida
Da inocência corrompida, da moral pré estabelecida, do que é a vida
Que é errar e aprender novamente, e outra vez sem medo errar
Que é ter uma chance de nascer e também uma de continuar
Da mulher que por vezes é oprimida, que também não podia votar
Do machismo que não é escondido, e que precisa sessar
De não dar a ninguém o direito de matar, vivamos!
Mas que se tire do homem o direito de abortar.
Porque eu, ainda dentro da barriga, nem sei de nada ainda
Mas se eu que vou nascer milagre, vou nascer para sofrer
Eu que nem sei de nada ainda, que eu saia antes da barriga
Antes de viver sem amor, que dessa vez eu não tenha vida.