Abortar

Mas eu, que já sei bem usar o porém, sabendo do milagre que sou

Falo das outras que tentaram também, do sangue que jorrou

Do direito de escolha e de viver, do direito de a mim não ter

De mim, que nem sou racional ainda, nem sei de nada na barriga

De alguém, que as vezes só dessa vez errou, que não se preparou

Da crescência de morte por falta de estrutura, desde a conversa

Até a escola que é da prefeitura, e de toda essa tal de censura

Do direito de escolha e também de crescer, de errar e de saber

Da infância perdida de qualquer um dos modos, do caso suicida

Da inocência corrompida, da moral pré estabelecida, do que é a vida

Que é errar e aprender novamente, e outra vez sem medo errar

Que é ter uma chance de nascer e também uma de continuar

Da mulher que por vezes é oprimida, que também não podia votar

Do machismo que não é escondido, e que precisa sessar

De não dar a ninguém o direito de matar, vivamos!

Mas que se tire do homem o direito de abortar.

Porque eu, ainda dentro da barriga, nem sei de nada ainda

Mas se eu que vou nascer milagre, vou nascer para sofrer

Eu que nem sei de nada ainda, que eu saia antes da barriga

Antes de viver sem amor, que dessa vez eu não tenha vida.

Jaina
Enviado por Jaina em 03/12/2014
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