Pois é
As balas voam por cima da casa
Como pombos desnorteados
Fere meu âmago e os meus versos
E Picotou os sonhos que tive nas azas
A porta da rua esta sempre aberta
E sua língua é mentirosa no palavrão
Pois sei que não sou órfão
Nem deixo pousar vermes na moléstia
As balam não cessam
Correm na ruela
Desentocam toda a favela
E as mães rezam
No epicentro é que dança o madeirite
Pula o cachorro no córrego
Automotivas margeiam o rosto turvo
E nada nos permite
Alguém sempre chora mais alto
Os blocos não bloqueiam o desespero
Que floresce do pé com chinelo
Que sobe até a laje rasgando o peito
O pulo no vizinho é cinematográfico
É pesado e sem som
E o velho sentado espera ,aquele tempo bom
Num lamento nostálgico
Todos se conhecem
Partilham do mesmo copo, de água com açúcar
Que evita a lamuria e os filhos param de chorar
E eles logo adormecem
Amanhã as marcas serão a visão no café
O tanque esfrega e esfrega
Pego o pão e a manteiga
E a conversa sera "Pois é".