UM SEGREDO

humilde como um peregrino

trago os bolsos cheios de pedras

e os olhos rasos d'agua

saudosa demais

um tom abaixo do tom

em que sobrevive

a alma avessa ao bom senso

meto a mão no bolso e

aperto entre os dedos

os pequenos punhais

até cravar os gumes na palma

aí respiro e retomo o rumo de casa

esvazio os bolsos

ajo normalmente

molho as plantas

conto dinheiro

faço pratos atraentes

deito entre as cobertas

agradecida

à espera de um novo dia

e a dor passa

só tenho medo da próxima lua

da próxima chuva

da próxima música

da cor do carro a correr

e da cidade lá fora

de onde podes chegar a qualquer hora

só por isso

nunca descuido de deixar

uma ou outra pedrinha alojada

sob a janela

exatamente na fresta por onde entraria

a luz do luar...

ROSE VIEIRA
Enviado por ROSE VIEIRA em 12/02/2015
Reeditado em 28/06/2015
Código do texto: T5135360
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