Pano de Fundo

Os cabelos tão libertos despenteados ao vento

Os pés tão firmes na estrada de terra

Os olhos tão castanhos, ou negros ou opacos

espectadores

Não é poema, pois se negam veementemente à poesia

São apenas cabelos, pés, olhos andarilhos

Transeuntes das horas

Navegantes do tempo

Ébrios...

Desejosos de assim permanecerem

Desfila o outono de fraque

folhas secas despertando de sua cartola mágica

Há um flautista em algum telhado noturno

compondo sua mais linda e triste melodia

E sua face como seria?

Essa face escondida sob o manto da madrugada

Movimentando almas em seus sapatos altos e vermelhos

Quem sabe em qual esquina adormeceu seu pianista?

Poderiam os segundos se renderem a um blues?

Não, impossível no outono!

Pois eis que o outono é um cavalheiro errante

Que caminhando se despede indiferente à musica

Há um colar de pérolas despedaçado

Enfeitam a varanda que beija de longe uma montanha

Seriam elas saudosas amantes?

Não. São apenas pérolas, montanhas, varandas

compondo um quadro do cotidiano.

São apenas coisas e coisas não se vestem de emoções

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 20/02/2015
Reeditado em 21/02/2015
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