Poema Desfibrilador

Pretendo reformar a velha casa daquilo que sou

Na vaga esperança de aquilo que sou, um dia mudar.

Quem sabe se aparar minha barba?

Talvez até um novo corte de cabelo,

Ou quem sabe se eu inventar alguma outra desculpa?

Lancei-me sem medo num amanhã oblíquo,

Na desgastante tarefa

De decifrar os sentidos de uma coisa qualquer.

Contra cada mistério, travei um combate.

Só com esforço, encontrei algo que me pareceu útil.

Ruminei então, a resposta ao longo do longo tempo

E ao longo do tempo a verdade virou saliva.

E se eu implodisse a velha estátua de mim

Na esperança de que minha alma reaja?

Que tal um novo bigode, para enganar a mim mesmo?

Queria tanto uma nova ideia

Que fosse diferente da velha ideia de ter ideias novas.

E se eu gastar meu último fôlego escrevendo

Um poema pobre e amarelo que não diz nada

Na esperança de lembrar-me como se diz algo?

Direi eu a mim mesmo:

Vá! Diga qualquer coisa estúpida,

Ou não diga nada se não puder dizer!

Brigue com as letras

E rasgue tudo o que não tiver importância!

Silêncio! Sim, o silêncio!

Pois é no vazio infinito do nada absoluto

Que flutua o brilho de todas as estrelas!