CONFISSÃO

Noite sombria, mergulhada dentro do tempo,

não espera por ninguém, deslisa como um raio;

assusta como um trovão, tinge os meus olhos,

petrifica a solidão, desnuda-me o peito.

O meu delírio desce até os pés, calafrios,

tremores, sustos, surtos, febre, saliva em fios,

o vinho doce agora é amargo,

a solidão é uma cinza, um papel branco esquecido.

Meu coração visita o centro da terra, jaz no pó,

a alma não se anima, alastra-se no universo,

nada encontra, tudo ficou tão longe e tão perto,

minhas súplicas tornaram-se malditas, sou réu confesso.

Porque a minha voz fere, da minha boca sai espinhos,

peçonha mortífera, adormeci no desespero,

perdi o equilíbrio, abandonei os estribos,

torturei um corpo, espalhei o terror, meu átrio está frio.

Ajoelhado, toco o chão, rego o meu amor, imploro o retorno,

crucificado por cravos, vejo pulsar as veias no último desejo,

perdoar a minha carne, castigar a minha boca cheia de lodo,

pedir misericórdia ao corpo que cicatrizei, pedir compaixão.

Exaltei os instintos, fiz de cada um deles, flecha e veneno,

atirados sem misericórdia, no peito de quem mais amo,

na face que mais beijei, no ventre que mais me deleito,

feri, machuquei, ao entristece-la sem deixá-la se recompor.

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 25/05/2015
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