Beleza em agonia

Desprezadas sejam a vogal e a consoante

Ao nutrir infame desejo de conduzir tosco poema adiante

Pois torpe é o verso presente, quê de anjo decadente

E o por vir desprovido de essência, a lamentar o peso da existência

Tolice gratuita despejada boca afora, enoja-me rima de efêmera paixão

Lástima aos olhos do poeta de outrora, erguida morada em repugnante [multidão

Vejo - e rio! - que preferes ao teu leito os ardores do romance vil

Trais a solidão, companheira nos temores, com aquele que nunca te sorriu!

Hesito diante de ternas palavras, ímpios são os amores meus

Tu, maldita inspiração, envergonha-te porque me abandonaras

Por não partilhar da crença vã pelo teu prepotente deus!

Ao desfecho tardio, não negarei de composição tal a autoria

Reconhecida sua fealdade, declaro-a, pois, beleza em agonia

Do desgosto fez-se afeto e, do soneto, herdeiro de melancolia

Diego Ramalho
Enviado por Diego Ramalho em 14/06/2007
Reeditado em 09/08/2007
Código do texto: T527059