Beleza em agonia
Desprezadas sejam a vogal e a consoante
Ao nutrir infame desejo de conduzir tosco poema adiante
Pois torpe é o verso presente, quê de anjo decadente
E o por vir desprovido de essência, a lamentar o peso da existência
Tolice gratuita despejada boca afora, enoja-me rima de efêmera paixão
Lástima aos olhos do poeta de outrora, erguida morada em repugnante [multidão
Vejo - e rio! - que preferes ao teu leito os ardores do romance vil
Trais a solidão, companheira nos temores, com aquele que nunca te sorriu!
Hesito diante de ternas palavras, ímpios são os amores meus
Tu, maldita inspiração, envergonha-te porque me abandonaras
Por não partilhar da crença vã pelo teu prepotente deus!
Ao desfecho tardio, não negarei de composição tal a autoria
Reconhecida sua fealdade, declaro-a, pois, beleza em agonia
Do desgosto fez-se afeto e, do soneto, herdeiro de melancolia