Passageiro de mim

Cansei de ver

brigas,rotinas

ódios, esquecimentos

toda uma ditadura levada

numa toada de palavras

onde espelhamos

os retalhos de vida alheios

aos perdões por dizer

aos fracassos por resolver

– Morri quando deixei

de ver

aquele teu sorriso

sempre pontual

cheio de coíncidências fraternas

lavando minha alma já farta

deste tempo onde empobrece

qualquer gomo de esperança

que ainda sugo a esta poesia

atrevida

improvável

que deixo flagrante em cada

verso tão conciliador e inescrutável

– Percorreremos cada miragem

do tempo que nos foge

insubmissos

desfilando súbitos pela vida

que acontece emboscada no ventre

de tanta indigência fatigante

ali

onde por fim nos aventuramos

pujantes

descerrando as pálpebras ao dia

afagando o silêncio andante

em longas horas de reencontros

breves

em tantas eternidades possíveis

infiltradas de afectos omissos

– O ciclo deste presente fecha-se

assim momentâneamente domesticado

passageiro de mim

onde seremos mesmo que inesperadamente

o epicentro da felicidade

assim aconteça

cada verso sangrando de amor

assim morra categórica

uma vida por tantas vidas

agendadas em sacrifício

pelos nossos desencontros fortuitos

velados num breve dia prostrado

na montra deste destino arquitectado

na vulnerabilidade predadora

de uma fé orquestrada em duas almas

que jazem infinitas…revigoradas,

desabrochando cada dia mais conciliadoras

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 01/07/2015
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