A natureza e meu sonho...
As nuvens entrelaçadas, misturadas,
trocando seus lugares, itinerantes, sem rumo certo,
suspensas, nômades sem destino,
formavam estranhas figuras
estudando viagens e retornos
entre chuvas que as podiam destruir.
Seguiam sua jornada, pareciam conversar,
umas alvas, outras cinzentas,
mas todas colhendo brisas, sem medo de temporais.
O céu, pintado entre as nuvens, vinha desde o horizonte
sem perder-se das auroras, sem fugir de outro ocaso,
misturava suas cores surrupiadas de arco-íris,
refletindo-se em quaisquer águas,
emoldurando bailados de pássaros a revoar.
O sol, na sua excelência, ficava de esconde-esconde,
vencendo todas as sombras e, esparramando beleza,
brindava o dia com luz, divertia-se no azul,
brincava a despertar cada cantinho do ar.
O vento, sem se anunciar, entrou nesta harmonia,
carregou os raios do sol e, sem cerimônia,
arrancou as folhas verdes, assustadas,
que aos poucos se perdiam em meio ao seu rugir.
O casal de canarinhos, que cantava no seu ninho,
que cuidava seus ovinhos
de novas vidas para seu cantar,
foi jogado bruscamente sem mais calor, sem mais lar...
Rodopiavam esperanças, perdiam-se ilusões.
Relâmpagos intermitentes, jorravam medos ao chão.
Os trovões arrastavam luzes que perdiam-se na imensidão.
Imergiam saudades rolando por entre águas
que desciam sobre mim.
No espetáculo ensandecido pelas revoltas do mundo,
entre os artistas reais da natureza,
no meu palco de lágrimas e de tristezas,
estática, ensurdecida, no pavor de tantas lutas,
na minha fuga de derrotas, no temporal de minh’alma,
esqueci-me de sonhar...