A sós

Tenho andando solto. Só e solto. E como num ritual, sigo lento e sempre, um passo após o outro. Caminho para onde? Se nem bem sei aonde quero chegar, por que insisto em caminhar?

Haverá, eu sei, um dia em que olharei ao lado e verei alguém. Desculpo-me desde já por ser está má companhia. Mas quem será? A quem pertence essa dor? E como há de saber eu que nada sei senão que sou só? Ao menos por ora...

Sigo. Como num ato involuntário. Ando e volto. Ando em círculos na jornada da vida. Hoje mesmo, estou no final. Quem sabe amanhã um novo início, como vem sendo há tanto... Quem sabe hoje, um último final, a botar morte na esperança que me move.

Mas amanheço. E não houve final. Nem bem começo. Sinto como se tivesse sido abandonado. Por todos. Pelos deuses e semi-deuses, pelos ricos e os humildes, por família, amigos e desconhecidos. Ajoelho-me e clamo, a alguma entidade que não esteja ocupada ouvindo preces melhores e mais importantes que as minhas. "Guia-me. Mostra-me o caminho que devo seguir."

Mas é tarde. Já me perdi. De mim. De todos. De nós. E te perdi, enfim. Espero que me perdoe, você que é sem nome. Você que aqui, no escuro da noite ou no clarão de um dia, se pôs a escrever. Não para que leiam. Não para que leias. Não para que agrade alguém. Nem a mim. Escrevo para eximir-me de tanto sofrer. Escrevo para libertar-me. Mas, hoje vejo que, no final, acorrentei-me em mim.

um poeta da noite
Enviado por um poeta da noite em 15/07/2015
Reeditado em 09/01/2018
Código do texto: T5311359
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