De que sonhos somos feitos?
Sonhos imprecisos de papel dobrável,
barquinhos indecisos na água indomável,
sonhos desenhados, desembarques da ilusão,
formas sem contornos e sem definição.
Sonho gaivota, prisioneira sem poder voar,
que canta e conta por céus desacordados,
de nuvens sem azuis em sons desordenados
pelas areias imóveis e sem ouvir o mar.
Sonhos, argamassas sem tom de realidade
fuga de nós mesmos, luzes apagadas,
campos voláteis do infinito, cavalgadas,
sobressaltos à procura da verdade,
que o sono, em suas ousadas histerias
vai delineando pelo entardecer dos dias.
Somos feitos de sonhos: vontade de roubar
nosso próprio sonho e sem poder sonhar.
Viajantes feitos rabiscos e caricaturas,
rodando por asfaltos negros, sem venturas
estradas dispersas que jamais se cruzam,
desejos volúveis que não se concretizam.
Nos recantos das ruas a se esconderem,
sonhos, rosas descoloridas e despetaladas,
por exauridos perfumes já evaporados
em pálidos odores do mundo a se perderem.
Sonhos abraços que apertam e sufocam espaços,
por desencontros, desfazendo nossos laços,
a estrela da ilusão que piscou, brincou,
fugiu no horizonte descontrolado e distante.
Sabores verdes de outros campos ondulantes
no doce sabor que o teu beijo me deixou,
a água murmurante entre pedras se escondeu
e a música macia da tua voz emudeceu.
Minha poesia é saudade e são lembranças,
riscos em molduras de escassas esperanças.
Em alguma esquina perdida pela vida,
e num último entardecer que a encobria,
escorreram sem rimas infindas alegrias,
sonhos, pesadelos de emoções adormecidas.
A viagem distante do sorriso que me olhou,
espreitou a luz de meus poemas e se apagou.