Poema costurado em dois Retalhos


O meu diário tem silêncios de cor.
Tem parecenças de flor
Trazida dos fins d'além-mar.

Nele as palavras já têm alforria,
Dizem o que não se diria
Preciso fosse falar.

O meu diário tem olhos de gato.
Colei-lhe um retrato
de nunca lembrar.

O tempo inclusive
Caminha pros lados,
pra trás e aos passados,
fingindo passar.

Não quer lembrar-se de lágrimas
Porém muitas e tantas viu.
Fez de cada uma um rio
para a tristeza levar.

II

E a lágrima caída despertou no papel a saudade de ser árvore,
dos vendavais e ninhos de pássaros.

(A folha mais delirante pensou que era chuva.)

No meu diário, os homens
dialogam com outros homens
E o pincel que Deus pintou o Sol
Tinge de amarelo os pensares.
Palavras e silêncios dão-se as mãos
E dançam a canção do desesistir.

Naquelas páginas não há senão humanizagem.
Botões de rosas fecham vestidos
Feitos de lírios e malmequeres,
mais difíceis que pés toca-chão.

Fim é um remendo.
 
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 28/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
Código do texto: T5327084
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