Folhas, águas, linhas

Às vezes vivemos uma vida inteira em uma pequena época. E ela passa, e acaba, e não volta; então mais tarde se percebe que vivemos felizes uma vida inteira, mas dentro de uma época que se foi.

Folhas, águas, linhas

E vão as folhas secas no curso do rio,

Vão mil destinos entortando nas pedras.

Suas belas pernas no fluxo de um cio,

Cobiçam alento e afeto defronte à guerra;

Correm sozinhas, andam famintas...

Estacionam distintas em terrenos baldios;

Deixam sementes de adolescentes linhas...

Brisa menina caçoa das varas que envergam.

No centro da terra o fulgor do suor se resseca,

O encanto sapeca resiste em sobreviver;

Se o viver que persiste é a poesia mais fértil,

Sai firme e forte da inércia e imerge no alvorecer.

Outra menina linda, outra menina minha...

Garota garoa tornando-se chuva forte e bem-vinda;

Como a perceptível delicadeza de uma folha de orquídea...

Também mexe em minha alma, coração e vida.

As águas levam as folhas e induzem às vidas...

Cantigas longas e antigas do clico do tal renascer;

O que fazer com palavras dançantes e musas nuas divinas?

- Só bailar nas vitrines do mundo – moribundo,

Em sóis quentes, luas gordas – franzinas,

De folhas, águas e linhas... é tudo que se deve fazer.

André Anlub®

(5/11/14)