A FEIRA

A FEIRA

Em Areia Branca, o povo celebra a feira como um acontecimento de grande importância.

Já cedo, desde as primeiras horas, senhores e senhoras deitam nas mesas de suas tendas seus produtos para a venda.

Areia Branca, então, se transforma em um formigueiro para quem compra; para quem vende, e para aqueles que somente passam.

Ir à feira de Areia Branca, aos sábados, é coisa que não se deixa de fazer.

Até quem não tem dinheiro, pasmem, é visto por lá: Um tomatinho aqui, outro acolá, e as compras foram feitas no chão de pedra, no pé da barraca.

As prostitutas, da beira da pista que vai para Itabaiana, às nove horas, fazem ponto na barraca de seu Antenor.

As meninas jogam bicho, tomam cerveja, vendem seus bilhetes e, um pouco mais adiante, fazem amor, logo depois da ladeira do riacho.

Na feira de Areia Branca todo mundo ganha a vida, seja deitado, ou em pé, com verduras, frutas ou fumo de Lagarto.

O que importa em Areia Branca é que o mundo é de todo mundo como bem dizia seu Raimundo quando sua mulher se deitava com ele.

Em Areia Branca, depois das dez tem garrafada que cura tudo, menos a dor de corno, essa segundo Augusto não tem ajuda.

Em Areia Branca, tua dor é do povo; todos querem saber o “causo”.

Seja você branco ou preto se errar tá língua da comunidade.

Perto de meio dia, gente de todas as idades, de mãos dadas ou não, caminham para aqui e para lá só para mexer, ou futricar um pouquinho.

Em Areia Branca não tem arrastão como em Copacabana;

Em Areia Branca não tem prédios altos como em Copacabana;

Em Areia Branca não tem favelas nem se acende velas para quem no asfalto depois do assalto se foi.

Em Areia Branca tem quiabo, chuchu, pimentão, frutas diversas, tem até caju.

Em Areia Branca tem moça bonita, homem guerreiro, e homem sabido conversando com o empreiteiro.

Em Areia Branca o futuro te persegue,

O passado te atormenta,

Índios, meninos loiros, e negros da senzala andaram de armas na mão.

Fizeram do pé da serra uma confusão.

Em Areia Branca só o presente interessa,

Só o dia-a-dia importa; nunca se sabe se a vida volta depois das horas de trabalho para quem o tem.

Em Areia Branca os homens são irmãos, são amigos, são inimigos ou amigos da onça.

Em Areia Branca, em um sábado, encontrei uma amiga faceira.

Ela me disse: “Tudo isso pode ser alguma coisa; no entanto, quem no peito tem espanto, não pode jamais subir essa serra”.

Em Areia Branca, deixei minha mala no ponto de ônibus e fui lá pra cima.

O mundo embaixo ficou pequeno.

E a feira sumiu...

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 25/09/2015
Reeditado em 05/10/2015
Código do texto: T5393921
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