O quanto a girafa engole

São tantas as coisas que vão garganta acima, que eu me pergunto como é possível suportar tanta agonia.

Já engoli tanto sapo, tanta dor, tanto amor, que Deus me livre ser uma girafa! Imagina ficar com algo descendo num processo lento e triturador até o estômago conseguir digerir? É como se a dor estivesse consumindo as cordas vocais, e a voz se esvai ao tentar sussurrar um “eu te amo” a própria sombra.

Às vezes, eu vejo alguns pedacinhos do meu coração saindo pela boca numa massa de vômito. Ops! O que você ainda faz aqui?

Uma agulha, um pedacinho de chocolate, amores e (respectivos) desamores, a alegria e a tristeza, o amor e o ódio, as cartas não respondidas, aquelas não enviadas, as músicas que hoje soam como “já ouvi essa música antes”..; eu deveria esquecer essas coisas? Se sim, por que elas estão na minha frente como um embrião sendo formado no útero da minha mão?

E como esse filho cresceu rápido, meu Deus! As coisas foram lhe dando vida, e ele se tornou nada mais que lembranças escritas num caderno velho com detalhes rosinhas...

Ah, acho que sou uma girafa!

(SANTOS, Iasmim 21/11/2014)

Iasmim Santos
Enviado por Iasmim Santos em 06/10/2015
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